segunda-feira, 14 de novembro de 2011

she wolf

Era noite de lua cheia, o que queria dizer que qualquer misera emoção desencadearia o desastre.

Ele sabia muito bem disso, mas mesmo assim, insistiu para que eu fosse na reunião de família. Ele prometeu fazer de tudo para me deixar calma, e eu sabia que era verdade: Envolta nos seus braços eu me sentia humana, mesmo sabendo da maldição que corria em minha veias.

Arrumada e perfeita eu nem de longe lembrava a natureza animal que se escondia abaixo da minha pele.

Ele sabia do monstro que eu era, mas nunca havia me visto transformada, e eu esperava que ele não me visse desfigurada tão cedo. Tinha medo de o machucar, quando o lobo vencia eu, humana -o que sobrou disso dentro de mim- frágil, não podia fazer nada para reprimi-lo. Eu esperava que se um dia, as emoções me transformassem perto dele, nosso amor bastasse para eu lembrar de quem era ele. Se não, eu não me perdoaria.

Foi então que, enquanto eu estava distraída, ele beijou meu pescoço caminhando cuidadosamente até minha orelhas num vai e vem que me tirou do controle total. Uma inocente caricia que sob o efeito da lua fez meu corpo responder de forma surpreendente. Eu desesperei

- Suas mãos - ele sussurrou, apontando para os pelos cor de mel que nasciam estranhos em minha mãos buscando a forma animal que sempre quiseram ter.

- Vamos pro seu quarto- Eu respondi, enfraquecida pela luta que eu começara a travar com meus instintos. Desviei o olhar do brilho prata que vinha da janela. - Rápido, eu não estou bem - Continuei, não sabendo o quanto tempo eu aguentaria.

Ele então me segurou, de forma que meu corpo em transformação ficasse escondido pelo dele. A sala irrompeu em murmúrios, ele apenas respondia com um "ela tá passando mal"

Quando chegamos no quarto ele me deitou na cama, minha respiração irregular me fazia parecer ainda mais selvagem. Então deixei q a irracionalidade me dominasse, cansada de lutar com o impossível

- Me deixe sozinha, eu vou te machucar - Eu tentei falar sem gritar, apesar da dor da transformação não deixar que eu soubesse se consegui o que pretendia

- Não vou te abandonar, te amo, humana ou não - ele respondeu segurando minhas mãos que agora já não pertenciam mais a um humano.

Então eu, inconsequente, o puxei pra perto. E então eu vi, refletido nos olhos negros dele, um lobo cor de mel totalmente manso deixando-se acariciar pelo seu dono. O lobo estava domado.

Um comentário:

  1. Que texto lindo, te leva à imaginar que também está na história e bate uma aflição no final de "será que ela o matará?", mas tudo volta a ser doce com "um lobo cor de mel totalmente manso deixando-se acariciar pelo seu dono."

    Parabéns!

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