sábado, 28 de maio de 2011

gêmeos

Eu me deitei de olhos fechados no banco do corredor do colégio.

Deixei que o barulho dos tambores do congo enchessem meus ouvidos. Senti uma paz engraçada, como se tudo tivesse em seu devido lugar. A escola estava em festa, e isso me pareceu incrivelmente divertido, mesmo que eu estivesse totalmente alheia a tudo isso.

Era como se nada mais importasse. Se eu e Jorge estávamos juntos ou não? Eu pouco ligava, estava feliz sozinha e isso bastava.

Mas, quando eu menos esperava, sem querer abri a caixinha de surpresa que é a vida.

Mesmo de olhos fechados, eu senti alguém que se aproximava sutilmente de mim. Era Alessandro, irmão gêmeo de Jorge.

Ele chegou perto - bem perto mesmo, muito mais do que eu poderia esperar dele- e sussurrou no meu ouvido tentando imitar a voz do irmão.

"Continua de olhos fechados minha bella"

Eu ri, eles eram idênticos, estar de olhos fechados pouco faria diferença, mas eu sem saber muito por que entrei na brincadeira dele. Não imaginava o motivo dele em querer me enganar, mas deixei que ele achasse que estava conseguindo seu propósito.

De surpresa, ele deitou seu corpo bem perto do meu, me inundando entre o calor de seus braços. Eu me surpreendi com a ousadia, mas não ousei afastá-lo. Afinal, eu, no escuro dos meus olhos fechados, me senti totalmente protegida dos olhares alheios.Como uma criança que para não ser vista tampa os olhinhos, como seu pudéssemos nos esconder do mundo só fechando-se em nós mesmo.

Então, ele me beijou. E eu, atônita, só fiz beijá-lo em troca. E, naquele momento, eu não era sozinha. Era um surpreendente mundo só a dois.

Porém eu teria que acordar de tudo aquilo, então eu abri os olhos, lentamente, enquanto ele carregava meus lábios entre seus dentes como se não quisesse mais livrar-se deles.

"Alessandro, você pensou mesmo que eu não ia perceber que era você?"

"Então por que você me deixou fazer isso, minha bella?"

"Por que nunca é tarde para perceber uma escolha errada"

E eu fechei os olhos de novo.

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