quinta-feira, 24 de março de 2011

minha prisão particular

Baseado em um sonho, em uma conversa e em interpretações pessoais sobre ambos:
Eu fitei, entediada as paredes que me rodeavam. As quatro malditas paredes que formavam aquela imundice mal organizada que era meu cárcere. Um amontoado de tralhas e um único sofá mofado era tudo que eu via nos dias da minha medíocre vida de prisioneira.
Raramente me davam o luxo de ver o sol, e as pessoas ao meu redor. Salvo as vezes que ele, meu carcereiro, me exibia, como troféu, àqueles amigos repulsivos que as vezes vinham me vigiar. Como seu eu fosse também deles. Nojentos!
Porém o que mais me enojava era que não eram as quatro paredes que me prendiam nesse inferno, e sim meu próprio medo. Medo dele, é claro, e do que ele faria se me pegasse fugindo. Mas acima de tudo o medo da própria liberdade e do que fazer com ela (ou do que fazer sem ele). Eu tinha medo de voltar a ser avulsa.
Não queria abandoná-lo por mais que eu quisesse me livrar dele. Já desistira de entender o desejo insano de sofrer mais para estar do lado dele. No espelho eu via apenas um caco inútil do que outrora era uma bela obra de arte. Um ser submisso e auto destrutivo, que sentia um prazer secreto em sofrer se isso me levasse à atenção dele.
A dor não importava. Era o preço de se sentir viva.
Eu já havia tentado fugir, lógico, mas por inúmeras vezes eu me auto sabotava e voltava para o mesmo lugar de sempre. E isso só fazia aumentar a estupidez e frieza com que ele se dirigia a mim.
Ele era um bruto capaz de macular uma rosa delicada como eu. Ele me detestava! Por mais que no inicio eu fosse dócil e obediente e sedutora nunca fiz crescer nada naquele coração além do desprezo. Estar atenta ao seus caprichos só me trouxe a tristeza desse claustro.
Mas hoje eu iria me livrar de tudo isso. Não haveria sabotagens, eu estava decidida a pagar o preço que fosse pela liberdade. Inclusive a solidão e o esquecimento.
Então eu com meia dúzia de palavras que eu mal me lembro consegui arrumar uma desculpa qualquer para que o estúpido do amigo dele que hoje me vigiava deixasse eu sair. Então, como o planejado eu seguia a rota que me deu acesso a rua.
Quando finalmente cheguei ao lado de fora, a luz do sol enlouqueceu as minhas pupilas acostumadas ao escuro da submissão. Eu, meio cega, atravessei a rua. Então uma dor lancinante percorreu meu corpo enquanto eu voava no ar atingida por um carro em alta velocidade.
E antes que eu tivesse tempo de conhecer a liberdade tudo voltou a escuridão.

domingo, 20 de março de 2011

sobre a loucura

Fazia um mês que eu desenhava alianças. Dia e noite. Em todos cadernos, folhas avulsas, agendas, cadernetas telefónicas, carteiras escolares... não importava aonde. Eram só alianças.
Onde antes tinha uma variedade de olhos, barcos, espirais, borboletas, casas, ampulhetas e dezenas de outros rabiscos sem sentido especifico, hoje só restava as alianças.
Grandes, pequenas, bem desenhadas, mal desenhadas... de todas as formas e jeitos. Todas para uma mesma pessoa: Isadora.
Por vezes eu duvidava que Isadora fosse real, ela bem que poderia ser fruto da minha imaginação. Mas minha lembranças não podiam me enganar. Eu quase podia jurar que já havia tocado as curvas bem delineadas daquela menina que protagonizava meus sonhos mais secretos. Uma única vez. Mas o calor dela ainda corria em meu corpo.
E eu nem sabia o nome verdadeiro dela.
Isadora. Tão imaginaria quanto todas aquelas alianças e juras de amor. Mas eu a amava. Tinha absoluta certeza disso. Mais certeza do que as meninas humanas e alcançáveis que eu já havia me envolvido.
O sorriso dela, o jeito puro que ela brincava de ser ela. A segurança insegura. Os paradoxos perfeitamente resolvidos no ato de ser mulher sem deixar de ser menina. Tudo tão perfeito e parecido comigo. Um diamante polido para encaixar perfeitamente em todas essas alianças que eu dedicava a essa mulher. Minha mulher. Minha menina.
Ela era minha. Só minha. E dona de todos aqueles rabiscos.
Era amor. Era loucura!

sábado, 19 de março de 2011

lua dos namorados

não queria tirar o texto da Julia do topo, mas não fazia sentido não postar esse texto hoje, já que a lua citada é a de hoje.... então leia os dois.... beijos bela

Era noite. Mas extamente sábado a noite. Um sábado comum, exceto pelo fato de que era a noite da maior lua dos últimos 8 anos. Enquanto a lua emergia do céu negro, sem uma única nuvem para atrapalhar sua magnitude, eu, aqui na terra, me sentia pequena e sozinha.
Eu me encolhi de frio, com minha roupa inadequada ao vento gelado que vinha do mar. O frio me fazia pensar coisas que a muito tempo não me atormentavam. Me fazia lembrar de tudo aquilo que aconteceu naquela praia, sob o mesmo luar, quando ele era ainda, como eu , tímido e despercebido.
Lembrei do nosso primeiro encontro. Nosso único momento a sós. Como eu, insegura, temia cruzar meu olhar com o seu e como eu articulava com dificuldade as palavras para te impressionar. Sim, eu era boba e iludida. Senti saudade desse meu eu. Lembrei-me do seu cheiro e da suavidade de suas mãos. Era tudo tão vívido que se eu me distraísse, podia ver sua imagem ao meu lado.
Mas eu lembrei também, de como eu, já curada de você, beijei outro, sob a mesma lua, no mesmo lugar (e como se nada narrado anteriormente tivesse acontecido). Outro que ocupa meu coração de forma mais agradável que você. Com a suave delicadeza da seda, que envolve e embeleza, mas que não aquece. Infelizmente.
Eu ri, vendo eu mesma nesse segundo encontro, tão segura e atirada, tala qual a menina adulta que sou. Uma imagem que nada se assemelhava a garota frágil que mirava a lua em um silenciosos pedido de ajuda de alguem que quer esquecer o passado e buscar, pacientemente, uma nova historia pra ser contada.
Eu continuei sentada na areia molhada, esperando, olhando, orando. Quando, de repente, como se a lua brilhasse só pra mim,alguém me abraçou por trás. E meu corpo se arrepiou envolto no calor desse abraço inesperado. E sem que eu percebesse como, quem ou porque, me vi imersa nas águas oníricas do amor.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Um dia qualquer

Era um dia modorrento de outono, e a chuva caia fina nas ruas. Havia poucas pessoas andando na calçada, e as que estavam caminhavam apressadamente, sem nem olhar para os outros, com medo da tempestade que prometia chegar. Uma folha caiu da arvore.
Mas ali, debaixo de um guarda chuva azul claro, estava Ana, simples, molhada, de volta pra casa. Caminhava lentamente, pensando, alegre, um contraste colorida naquele dia cinzento.
Naquela mesma rua, caminhava Paulo, apressado, com seus livros de escola e seu fone de ouvido numa musica que ele não sabia o nome, mas que lembrava ter ouvido num filme, alheio a todo o resto.
Só que numa esquina, os dois, sem perceber a presença do outro, se esbarraram. Foi um só susto, uma diferença num dia tão igual, os acordando de seus mundinhos. Os livros caíram no chão.
Paulo abaixou para pegá-los.
- Desculpa... – Murmurou Ana - Quer ajuda?
- Não! – Disse Paulo, meio rude – Quer dizer, desculpa, não é isso que eu quis dizer – Ele riu – Não precisa... Isso.
Os dois riram, talvez se encontrassem mais alguma vez algum dia. Sorrindo, seguiram seus caminhos.
Mais folhas caíram, naquela modorrenta tarde de outono, onde as pessoas mal olhavam para as outras.

Julia UP

segunda-feira, 14 de março de 2011

O namorado de Ana

Olhei de soslaio pra Rachel. Ela estava tão apreensiva quanto eu.
- Besteira ficar nervosa por uma bobagem dessa, uma hora ia acontecer - Eu decretei, fazendo que as palavras soassem numa mistura de consolo e auto-afirmação.
Logo Ana iria chegar com o namorado. E apresentá-lo oficialmente para as melhores amigas, ou seja, eu e Rachel.
E nenhuma de nós sabia como agir perante essa situação tão esperada pelos nossos 21 anos de solterice. Era tudo tão mais simples quando podíamos ouvira apenas os relatos apaixonados de amores e caricias sem compromissos, sem ter que ser simpáticas com os pretendentes ou coisas do tipo.
Mas agora? Os detalhes, antes tão explorados, agora deveriam ser arquivados, para que nunca olhássemos aquele menino pelos olhos de Ana, como costumávamos fazer com os outros. Não podíamos mais conhecê-lo tão bem.
Será que ele nos acharia antipática se mantivéssemos certa distancia? Ou será que ela duvidaria das nossas intenções se fossemos simpáticas demais? Era uma linha tênue entre o pouco e o excessivo. Era como olhar para aqueles doces cheios de glacê, mesmo quando não se quer prová-los nossa cara ainda assim fica suspeita aos olhos maliciosos. Eu temia que falar demais pudesse me deixar com cara de “olhando-para-um-doce-legal”, mas ainda assim não queria ser mal educada... Era confuso.
Eu perdia horas imaginando a hora que encontraria esse menino. Falando assim parece até que eu não o conhecia. Eu já o conhecia sim. Era o Ricardinho , que tinha estudado com a gente na quarta serie. Se bem que agora ele era Ricardo, o namorado da Ana, nossa melhor amiga. Sem mais nenhuma intimidade, empolgação, inveja, ciúmes... nada!
- Eles estão chegando – Rachel falou em cutucando sem o mínimo de sutileza.
Olhei pra ela e respiramos fundo, ao mesmo tempo, tentando esconder, como atrizes dignas de Oscar, nossas caras de vergonha. Agiríamos normalmente, afinal é pra isso que servem as amigas não é?
E alem do mais, ninguém ali ia ficar sabendo o que eles realmente acharam, por que tem coisas que você não conta nem pra sua melhora amiga não é? Ou não?

terça-feira, 1 de março de 2011

Flash back

Eu espero, por mais que não queira, e espero ansiosa o barulhinho da janela do msn piscando, torcendo para ser você. As janelas piscam, mas não é você.
Eu sei muito bem que posso fazer isso, pode ser eu a piscar a janelinha, mas por que? me diga, sinceramnete, por quê?
Pra que te incomodar, se você mesmo poderia querer conversar? Como saber se você quer isso ou se eu estou sendo boba?
O pior é que a história se repete. E repete, e repete, incansavelmente!
E eu, a tolinha, vou estar aqui esperando, ou não. Então corra, porque as chances acabam, e a paciencia também.