terça-feira, 23 de novembro de 2010

meu livro *.*

- Posso te fazer uma pergunta?- disse timidamente quebrando o silencio - Se eu te tocar, eu posso te sentir?
Ele permaneceu em silêncio, apenas levantou as mãos em direção ao meu rosto.
- Não, você não pode – ele respondeu acariciando de leve minhas bochechas.
Ele estava errado. Minha pele não podia senti-lo, isso era verdade, mas havia uma sensação estranha no lugar onde suas mãos estavam. Era como se ele estivesse acariciando minha diretamente alma.
Não se parecia com nenhuma sensação que eu já tivesse provado. Era algo novo e maravilhoso. Eu podia sentir uma espécie de calor vindo de suas mãos, como se uma brisa quente estivesse acariciando meu rosto.
Não havia matéria, era só uma espécie de energia.
Agora, mais do que antes, eu tinha certeza de uma coisa: Nós nos completávamos.
- Você está errado – eu disse colocando minha mão sobre a mão imaterial que me tocava - Eu te sinto.
Ele pareceu confuso. Mesmo assim eu não expliquei minhas palavras, até porque eu não conseguiria mesmo que quisesse. Eu esperava que ele entendesse sozinho.
-E você pode me sentir? – eu disse me certificando que ele também tivesse sentido a magia do momento.
-Claro, mas não do mesmo jeito que você me percebe. Para mim você é tão real quanto qualquer coisa viva a minha volta. Eu posso sentir seu toque, ainda que eu duvide que você possa sentir o meu.
Agora eu que estava confusa.
Eu encostei com um pouco mais de força sobre as constas da mão de Hugo, que agora estava sobre o banco em que estávamos sentados. Minha mão conseguiu atravessar a dele. Não fazia sentido que ele pudesse me sentir como uma pessoa normal.
Olhei pra ele confusa. “Não entendi” eu disse baixinho.
- Você como todo ser vivo, é composto de alma e corpo – ele disse respondendo as minhas perguntas antes mesmo que eu as formulasse - Eu não posso sentir seu corpo. Mas tenho total percepção da tua alma. Eu sinto quando ela me toca, eu sinto quando ele deseja estar mais perto, ou quando ela está confusa. – eu encarei seus olhos castanhos totalmente desnorteada e ele completou segurando minha mão - Como agora.
- Minha alma também pode te sentir- eu completei o pensamento – Só que eu não sei compreender tão bem essa sensação quanto você faz.
- Então eu vou ter que te ensinar – ele brincou.
De repente eu senti que rosto dele estava cada vez mais perto do meu. Agora além de tudo eu podia sentir um perfume que vinha dele. Era um cheiro inexplicável. Doce e fresco ao mesmo tempo. Parecia-me familiar. Cheirinho de infância, algo que me lembrava bebes gordinhos e rosados e ao mesmo tempo campos verdes com crianças brincando. Como tudo em Hugo, era inexplicavelmente perfeito.
Quando dei por mim, eu estava de olho fechado. E ele tinha os braços em volta do meu pescoço e o rosto bem perto do meu. Ele foi se aproximando e suavemente tocou seus lábios nos meus.
Dentro de mim houve uma explosão. Uma corrente elétrica percorreu meu corpo. Tudo parecia rosa ao meu redor. Fechei os olhos. Não podia mais vê-lo, mas eu sabia que ele ainda permanecia bem perto de mim. Talvez seus lábios ainda estivessem em minha boca, mas eu não queria abrir os olhos pra ter certeza.
Tudo parecia um sonho. E se fosse eu jamais ia querer acordar.
Eu senti que a sensação estranha de felicidade súbita ia se afastando lentamente, abri os olhos e ele estava apenas com a mão sobre a minha. Entendi de imediato por que ele me soltara. Nós tínhamos uma corrida contra o relógio. Era necessário deixar a magia um pouco de lado e voltar para realidade.

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