quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

sobre a duvida

Segui o rastro do vidro quebrado no chão. Imaginei quem poderia ter se envolvido num acidente tão grave numa estrada tão deserta. O carro estava praticamente destruído. Quem quer que estivesse envolvido nesse acidente já devia ter morrido, ou estar muito perto da morte.
Senti um aperto no coração quando reconheci um ursinho no pára-brisa. Era Diogo, minha paixão platônica desde a quinta série. E ele estava vivo! Eu podia ouvir seus gritos de dentro do carro. Estranho, o pedido dele não era por ajuda ou algo assim. Ele dizia: “abre o porta malas” ou alguma coisa do tipo. Eu não entendi, mas procurei fazer o que ele pedia. Não fazia sentido, mas soava como ultimo pedido. Qual não foi minha surpresa ao encontrar uma face demoníaca presa as ferragens. Eu gritei!
O rosto. de forma totalmente sobrenatural, olhou para mim e em meio a risos sarcasticoe tenebrosos, ele disse "não tenha medo, sou um demónio domesticado" Eu continuei sem ação. "È só quebrar um dos meus chifres que eu salvo seu namoradinho" ele continuou "Não é um pedido muito grande é?". A voz era fria e assustadora, talvez até mais que a imagem bizarra que estava a minha frente.
Eu , tola, estendi a mão para tocar o chifre da criatura e quebrá-lo. Qualquer coisa valia a vida de Diogo. " Mas espere mocinha" a criatura disse com sua voz estranha "Ao fazer isso tua alma será eternamente minha, mas você não se importa não é? A vida do seu verdadeiro amor está em suas mãos... você não se importa com esse detalhe não é?" Ele riu ao terminar a frase. "Se você deixar ele morrer você também está condenada ao inferno, meu bem..." ele pronunciou as duas ultimas palavras com uma pontada de sedução. Me senti enojada "Pois assim tu serás uma assassina, pois o condenou a morte quando podia salvá-lo... e ainda tem a culpa de viver sabendo que a vida dele não foi salva... por egoísmo??" Ele me torturava com a crueldade de suas palavras.
Eu hesitei por um momento. Eu já estava condenada por estar no lugar errado na hora errada, estava condenada por amar Diogo! Ai eu pensei, que tipo de pessoa tem um demónio de estimação? Eu duvidei por um momento que eu realmente o amava. Porém todas células dos meu corpo gritaram um sim bem sonoro. Ele era decente, eu o conhecia. Ou não conhecia? Eu amava algo que eu não conhecia? A confusão crescia dentro de mim.
"Anda vai deixá-lo morrer?" o demónio gritou. Ele morreria e eu seria culpada. Se eu já estava condenada eu pelo menos o teria no inferno comigo. Parecia de certa forma tentador.
Mas era minha alma. Devia haver algum perdão por preservá-la...
Eu fiquei estática olhando para aquela figura horrenda que ansiava por minha alma. Tive medo.
Então dei as costas pra aquele horror.
Um passo. Eu realmente tinha tomado uma decisão?
Outro passo. Ele morreria por minha causa?
Mais um. Eu viveria com a culpa?
Eu olhei pra trás.
Na duvida....
E eu acordei.

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